quarta-feira, 21 de julho de 2010



''Eu fui e adorei.'', ''Lembras-te daquele dia em que... espectáculo.'',''É tudo psicológico, as dores, as bolhas tudo.'' Já estás inscrita,vê se começas a treinar.'', ''Tu não tens o hábito de andar a pé? (...) Tu consegues!'', ''Não vais lá chegar és maluca.'', ''Eu não acredito que aguentes, tens a certeza?'' - Tenho, não vou desistir e vou conseguir.


Não vou negar que da boca saía 'vou conseguir', 'vou lá chegar', 'vocês vão ver, vou entrar no santuário ao pé coxinho vão ver', mas cá dentro a incerteza pairava, todas aquelas perguntas faziam parte do consciente, será? é difícil? etc mas mesmo assim senti que tinha de o fazer por vontade própria e seguir em frente. A azáfama que antecedeu o derradeiro dia foi para que tudo desse certo, pedi conselhos a quem já tinha ido para que nada faltasse, programei tudo com a devida antecedência e o dia chegou. O descanso que precisava durante o dia e para acabar assisti à Eucaristia para receber a bênção, o coração palpitava que não ia ser fácil mas a hora tinha chegado e lá estávamos nós desta vez sem atrasos com as mochilas já na carrinha de apoio que ia ao nosso encontro no dia seguinte. A lágrimas do costume, mãe e pai que mesmo duvidando deixaram-me partir confiando-me a quem me ia acompanhar naquela caminhada.
Estava curiosa como tudo ia funcionar, a organização, a amizade que se cria, os obstáculos, os caminhos, a noite, o frio, os pés tudo. Pés a caminha e começou a nossa primeira etapa que teve inicio por volta da meia noite de sexta-feira dia 14 de Maio, o dia em que Bento XIV veio ao norte de portugal, porto. De Gens começamos a andar noite dentro fazendo as devidas paragens de 5 minutos para descansar, comer qualquer coisa que aconchegasse o estômago, as barras energéticas no Zé, as maças que pesavam na mochila e lá íamos nós, para quem vai de novo é tudo uma descoberta nunca sabia quando íamos parar, onde estávamos se o próximo passo era difícil nada, apenas o que ouvia dizer ( acreditem que muitas das vezes me assustava interiormente), a paragem para o almoço na 'Branca' (espero não me enganar) foi como se já estivesse a andar à 10 dias sem parar, não sentia os pés, já e doía tudo e aparentemente só tínhamos andado cerca de 40 km, até lá o passo já era retardado, até lá chegar houve um momento que pensei para mim em desistir, não compreendia tanto sacrifício sem motivo, pois se nem promessa tinha porquê continuar? Mas algo me fez prosseguir caminho e chegados à paragem para o almoço deixei o pensamento negativo para trás e quis chegar até ao fim. Pronto para voltar a andar , ainda com tempo para fazer um euro milhões prosseguimos rumo a albergaria a velha que ia ser a nossa primeira paragem de verdadeiro descanso depois de andarmos 16 horas. Desde a branca a albergaria só me lembro de estar sempre a perguntar,falta muito? quando é que chegamos? vocês disseram que eram 10 minutos. Então? Por fim chegamos ao motel onde passamos a primeira noite, a sensação de descalçar as sapatilhas foi ''O MEU DEUS, este não são os meus pés tenho 3 bolhas...'' e ao meu lado só ouvia, eu não tenho nada, ai que bom nem uma bolha, brrrrr que sortudas eram as minhas companheiras de quarto. E digo que sorte tive eu com elas as duas, não podia ter escolhido melhor. As chamadas da praxe antes do deitar e por fim lá estava eu com os pés ao alto pronta para começar a dormir ainda com sol lá fora visto serem cinco da tarde.
O relógio toca e nós ainda dormíamos mais um bocadinho, mas tinha de ser toca a tomar o pequeno almoço e pôr pés ao caminho. Ainda de noite e com um caminhar razoavelmente aceitável acompanhei o grupo todo enquanto rezamos o terço, ritual que cumpríamos todos em grupo todos os dias da caminhada, enquanto o fazíamos os passos eram acelerados e a hora rendia mais, depois disso era mais complicado. Mas a etapa proposta para o segundo dia tinha de ser concluída, e lá estamos nós a trabalhar para isso, o meu rendimento já não o mesmo do primeiro dia começava a ficar para trás para o fim do grupo o que trouxe de bom foi conhecer novas pessoas, aquele senhor por quem guardo grande carinho mesmo indo ele sempre a gozar com o meu sexy andar e me chamar mariquinhas e coisas do género, para mim de nome 'João' eu sei que não é esse o nome dele mas era o que eu ouvia quando o chamavam, ele era como o pastor das ovelhas não deixava ninguém ficar para trás, era sempre o ultimo. O almoço neste dia foi diferente, quem é que passa na Mealhada e não faz uma paragem para comer o verdadeiro leitão? Eu fazia isso, mas nesse dia tive de esquecer toda a filosofia da comida saudável e comer um pedacinho de leitão acompanhado por um golinho de vinho verde (ice tea) para angariar forças para a tarde. Nesse almoço a família foi lá ter, admito que sou um pouco mimada e soube bem tê-los do meu lado, mas longe de mim contar-lhes o quanto me estava a custar, para eles eu estava na maior e era fácil, era a imagem que eu queria passar e acho que consegui, era mais difícil saber que eles pensavam que o sacrifico é muito e já havia pensado em desistir. Acabada a hora do almoço seguem-se as despedidas para uns e um até já para outros que iam ter connosco mais à frente. O calor era abrasador, bebia água como nunca antes tinha bebido, os pés doíam, mas era tudo psicológico como dizia o Zé que não me largava sempre a caminhar lentamente a meu lado, foi uma grande ajuda para este dia de caminho. Na manhã desse dia ensinou-me um jogo com gesto e parecíamos dois malucos a ver quem o fazia melhor, lembro que essa manhã não tinha sido dolorosa, eu corria, saltava, cantava e estava feliz, mas feliz mesmo por estar distraída. Há tarde já não era bem assim, nas calmas lá ia eu, o João a dizer a adeus às pessoas e inventar gestos para que os camionistas apitassem, mas dava resultado arrancar um sorriso era verdadeiro. Entre dificuldades e obstáculos lá chegamos nós a Coimbra e a segunda etapa estava concluída. O ritual habitual antes de ir dormir com a excepção do jantar que nos foi levado directamente do MC DONALD'S, vida boa. Quando olhei para os meus pés não era capaz de acreditar que tinha andado tanto com os pés naquele estado, a Magda que era enfermeira que nos acompanhou durante os 4 dias sempre ao serviço de quem precisasse de auxilio tratou de rebentar uma bolha que era a mais preocupante e ligar o pé de modo a impedir que não voltassem a crescer. Fui dormir a mancar como nunca, sem saber como devia apoiar o pé, lá me deitei com um bocado de custo mas virei-me para a almofada e adormeci profundamente.

(continua no próximo post...)

1 comentário:

Nunes disse...

Eu por acaso nunca fui em peregrinação a Fátima, fiz já grandes caminhadas com mochilas bastante pesadas nos Escuteiros a nível físico acredito que os Raid's dos Escuteiros talvez possam ser mais puxados, os meus pais já participaram na peregrinação de Fátima a pé a partir de Lisboa e o meu medo é mais a nível psicológico, dorme-se pouco tem uma carga bastante psicológica bastante forte. Mas um dia hei-de experimentar e tentar que seja através de uma promessa para que aproveite de uma outra forma.

Gosto bastante da tua escrita. Continua o teu bom trabalho.