O medo assusta-me. Acordar no meio da noite sobressaltada e espreitar pela frincha da porta quase fechada e ver que estão bem, o respirar é contínuo, o ressonar silencioso, sentir aquele aroma de sono profundo e pensar que o sobressalto não tinha razão de ser. Acordar de manhã descansada depois de uma noite de sono controlada, abrir o estore com cuidado para vos ver acordar devagarinho, ajudar a levantar e escolher a roupa deste dia, preparar o pequeno almoço com pão fresquinho barrado com manteiga e uma chávena de café a fumegar, levar-lhe o jornal para que não sinta os seus hábitos mudados de um dia para o outro, ligar a televisão para que se sinta acompanhada e conversar um bocadinho, não custa nada e aconchega o coração de duas almas com idade bastante evidente e que de (mim) nós precisam cada vez mais. O sossego paira pela sala, lá dentro ouve-se o aspirador trabalhar e o espreitar desenvergonhado do sol ilumina a sala escura de luz natural. O tempo passa e com paciência os encaminho escadas abaixo para o almoço, estava bom aquele arroz de polvo magenta, o tempero era o certo e vocês sorriam enquanto davam uma trinca um num pêssego bem maduro a seu gosto e outro na pêra pequena e 'bastante saborosa' - como professa.
O sol já vai alto e na televisão não dá nada que agrade, vou até ao recanto mais recatado e recente da casa e lá estão um em cada cama a ''descansar''. Mas a cama não é a melhor solução, avó reza o terço e eu junto-me a ela para ver como o faz, devia seguir o seu exemplo e fazê-lo todos os dias, o avô distrai-se com sei lá o quê, descontrai apenas enquanto observa o horizonte. Apetece-se pegar neles pela mão e mostra-lhes sítios encantadores mas tenho aquele receio de que alguma coisa aconteça e que eu não esteja à altura do problema. Assusta-me! Mete-me medo. Mais um dia chega ao fim e tudo se repete, a mesma azafama do jantar e do deitar nada muda, apenas as histórias que lá vão sendo diferentes e o melhor é que os faz esboçar um sorriso. Xixi e cama. Boa noite meus velhinhos, muah muah. Aconchego-vos a roupa e subo as escadas directa ao meu blog. Escrevo como foi o dia tranquila porque este já passou e mais se avizinha, esta noite vou dormir descansada. Tranquila num sono que à muito não tenho direito. Será?
Apenas tenho uma vontade a partir do dia que hoje já acabou e já vai madrugada dentro, um dia de cada vez porque a velhice assim exige fico feliz por cada dia que chega ao fim e sim o vosso silêncio num sono profundo interrupto pelo batimento cardíaco suave. Agora é a minha vez. Boa noite!! ( boa noite medo, boa noite!)
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