quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fátima - parte 2

(parte 2)

Lembro-me de adormecer a chorar, não creio que fossem as saudades do beijo da mãe de boa noite mas de saber como tinha os pés, com receio de não conseguir chegar até ao fim depois de ter ultrapassado as duas etapas que diziam ser as mais difíceis.Adormeci. Quando ainda os pássaros se escondiam na madrugada fria toca os despertador, eram horas de acordar, estava na esperança de acordar como na noite anterior, cheia de força de vontade de querer andar, mas a dores foram mais forte, lembro-me de acordar e sentir que não tinha dormido nada, o meu corpo doía e tinha vontade de chorar, pela primeira vez. Disse para a Sofia - ''Sofia as dores são tantas que nem consigo evitar o choro'' e ela diz - ''Não te preocupes, eu ontem também chorei não é vergonha nenhuma, chora para aí rapariga.''. Não consegui evitar, arrumei as minhas coisas sempre a lacrimejar, chegada a hora de descer ainda a chorar pedi à Magda que me refizesse o curativo e tentava evitar chorar, mas não consegui, passei despercebida para alguns mas outros que já o fazem à tantos anos não me pediram para parar, nunca me vou esquecer de duas pessoas que vieram ter comigo e me deram força, o Bruno que se virou para mim -''Sabes tu estás a fazer aquilo que eu gostava de ter coragem para fazer muitas vezes, chorar faz bem, chora para aí.'' e a Dona Leonor que disse - ''Chora, um peregrino que é peregrino chora. Chorar faz bem.'' O durante algum tempo caminhou comigo mesmo com o meu silêncio, ela não exigiu uma palavra, deixou-me chorar até me passar. O Zé preocupado com o que passava era evidente mas apenas me perguntou se estava bem, de resto continuou o caminho a meu lado, disse o que eu precisava ouvir. Depois de um aquecimento lá consegui dar corda ás sapatilhas e no dia em que pensei que me ia custar mais consegui superar a dor e andar como acho que nunca antes tinha andado, sozinha com o meu ipod lá ia eu em passo ligeiro, não queria parar por me estar a sentir tão bem a andar. Agradecia a Deus e a Nossa Senhora a força que me tinham dado, eu meditei em pensamentos enquanto nessa noite rezávamos o terço e pedi-lhe força para continuar o caminho, eu não queria desistir. E não foi preciso pedir muito ela atendeu o meu pedido e deixou-me fazer o percurso ligeiro pelo menos até à hora do segundo pequeno almoço, depois disso os músculos já ressentiam mais um bocadinho. Paragem para almoço e recebo uma surpresa, os meus pais, não estava de todo à espera foi bom depois de uma manhã como aquelas receber um abraço apertado deles. Preparativos antes de voltar ao caminho, massagens, cremes, curativos tudo a que tínhamos direito e retomamos a nossa tarefa, que desse dia era chegar a Pombal.
Aquelas rectas assustavam-me, eram intermináveis. CREDO! Do meu lado só ouvia o João dizer -''Não tens vergonha? Anda mais depressa, anda.'' (respirei fundo contei até dez na esperança que se cansasse do meu lento andar e avançasse mas não, ora me empurrava, ora me puxava, ora me dava o braço e me fazia andar mais depressa.) Hoje admito que secalhar era lento de mais, até o Sr. Fernando gozava comigo o que não era difícil, até ele me empurrava com a sua bengala. Por outro lado também era induzida em erro, ''oh é já ali, está a ver aquela recta? pronto mais uma igual e uma curva e já estamos lá.'' mas não era nada disso, era bem mais!! Mas tinha de ser e estava convicta, se tinha chegado até ali havia de conseguir chegar ao fim. Chegados a pombal estava na hora de me despedir dos meus pais e dizer até amanhã, só queria um banho de banheira e descanso para a última etapa. Mal entramos no quarto o nosso espanto foi tal, aquele 'luxo' todo apenas por umas horas NAAAO! Seguimos para o andar de cima e as condições eram outras, o quarto dos rapazes não tinha sido renovado, hehehe, o Zé lá pôs mãos à obra e depois de jantar era obra mesmo, com muito jeitinho lá me conseguiu tirar o liquido todo que tinha nas quê, 500 bolhas? isso não sei precisar mas eram muitas, conseguiu encher uma seringa média para o João regar as plantas. Pés ligados e já ia eu para o andar de baixo a desfilar, nem parecia a mesma, deitei-me mais descansada e adormeci de imediato. Reconheço que a persistência de todas pessoas que me acompanharam nesse dia tinha sido para eu conseguir. Terceira etapa concluída.
Ao acordar no ultimo dia, o verdadeiro dia, sentia que tinha dormido o meu sono de princesa, e os meus pés estavam muito melhores comparados com os da noite anterior, nessa noite não acordei a chorar mas a pensar no pequeno almoço que se seguia. Há hora marcada lá estavamos todos prontos para entrar na recta final, uns bebiam licor beirão tal era o seu entusiasmo outros ficavam a olhar. E lá comecei eu a andar bem posso dizer, mas foi só a primeira meia hora, os meus pés começaram a inchar de tal maneira que o meu passo ficava cada vez mais lento e eu sem tomar consciência. O zé foi falar com a Dona Leonor para ela fazer de minha terapeuta e me ajudar, lá ia conseguindo até que numa paragem o meu amigo que hoje não sei o nome. peço desculpa mas para mi vai ser sempre João, deu duas de letra comigo e fomos partilhando histórias, nessa manhã fiquei a conhecer melhor aquelas pessoas fantásticas que nos foram acompanhando durante estes dias de sacrifício, partilhei segredos, confições e senti-me mais leve mas sem conseguir andar mais depressa, até que alguém lhe ocorreu que talvez fosse das sapatilhas que se tornavam pequenas para os meus pés inchados. O João ( o verdadeiro) prontificou-se logo a emprestar-me uma sapatilhas dois ou três números acima, e não é que era disso que eu estava mesmo a precisar? Foi o meu remédio para conseguir chegar ao fim do percurso, depois de nessa manhã ter andado de braço dado, aliás de dois braços dados, de receber uma rosa com muita amizade, de ter chorado e do João ter gozado imenso comigo, de ter ficado com tanta raiva dele e lhe ter recusado os morangos que foi apanhar para mim e para a Sofia, depois de tudo isso eu conseguia andar normalmente e como antes nunca tinha tinha andado. A hora da chegada estava próxima, e eu não cabia em mim de tanta felicidade, ia conseguir, faltava pouco já conseguia ver o santuário ao longe. Todos juntos rezamos o terço enquanto percorríamos os últimos 5 km de peregrinação, nem tanto acho. Cada vez me sentia melhor e pensava que Deus me ajudou a conseguir, Nossa Senhora não me deixou desistir os amigos que criei e outros que já tinha e que vi que eram verdadeiros amigos que me acompanharam, me fizeram rir, me deram força, que acreditaram em mim era com eles que fazia sentido entrar naquele santuário. À entrada tinha o meu pai a olhar-me emocionado, gostava de poder ler-lhe os pensamentos nesse momento, a minha mãe permanecia em silêncio e eu entoava um cântico de nossa senhora, coloco o primeiro pé no santuário e tudo o que era dor havia desaparecido, sentia-me leve como um pássaro. Quando lá cheguei nem pensei o quanto tinha custado, era como se tivesse começado naquele momento, olhei o rosto de nossa senhora singelo e dócil, agradeci-lhe e pedi-lhe por quem amo. Abracei a minha mãe e o meu pai, olhei o Zé a Sofia e o João e disse: - ''Conseguimos.'', o meu pai acrescentou, ''Obrigado filha és a minha heroína, nunca pensei, obrigado por esta alegria.''. Não agradeças a mim, mas a todas as pessoas que que tornaram isto possível, todas elas acreditaram em mim e me ajudaram com uma palavra amiga quando mais precisei, um raspanete quando precisava de o ouvir, um abraço quando me sentia em baixo, que tratou de mim quer físico como psicologicamente a eles podes chamar heróis, a mim chama-me filha e vamos embora que tenho saudades da minha cama. Adeus nossa senhora, para o ano por esta hora espero que me encontres por cá.

Um obrigado seria pouco, ao Sr José que nos acompanhou passo e passo sempre no auxilio de mantimentos, a D. Olga, a Magda, o sr. ''João'', D. Leonor e a irmã, Bruno, Sofia, Irene, Jota P., Sr Fernando e a mulher e todas as outras pessoas que não sei precisar nomes mas que fazem parte de um experiência que nunca irei esquecer, nunca mesmo.

Difícil de explicar, acreditar e escrever fácil de crer. Deus ouviu a minhas preces, ele caminha lado a lado comigo e hoje eu tenho a certeza disso. Se um dia cheguei a duvidar, esse dia não volta mais. Estou pronta e decidia a segui-lo de coração aberto, ele desenhou o meu caminho.

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